Pular para o conteúdo principal

Java no mundo das Telecomunicações

Este é meu primeiro post aqui no blog e gostaria de dizer que estou muito feliz em também poder contribuir com esta grande (e crescente) família Globalcode.

Vou começar escrevendo aqui sobre um tópico pouco explorado no universo Java: o seu uso no mundo das telecomunicações.

Vários de vocês podem ter trabalhado em projetos para empresas de telecom utilizando a tecnologia Java. Eu mesmo já participei de alguns, implantando sistemas de tarifação, faturamento, CRM e cobrança. Mas o objetivo deste post é um pouco diferente: estou falando do uso de Java na própria rede de telecom. Como vocês podem imaginar, esta rede que permite que ligações telefônicas sejam feitas de seu celular ou aparelho fixo é um tanto quanto complexa, lidando com aspectos como roteamento, bilhetagem, roaming, etc. E o Java está presente neste cenário também.

Para provar que não estou mentindo, abram o site do JCP e cliquem no link "JSRs by Technology". Observem que uma das categorias lista é a JAIN (Java APIs for Integrated Networks). São 22 JSRs voltadas para a criação de APIs, focadas em protocolos e arquitetura de redes convergentes.

Para entendermos direito do que se trata e o enorme potencial de aplicações que isto traz, vou dividir este post em algumas partes:
  1. Introdução às Redes Convergentes/IMS
  2. VoIP/SIP
  3. SIP Servlets
  4. JAIN SLEE
Vamos começar contando (de forma mega simplificada) o cenário atual das redes de telecomunicações. Nas próximas semanas pretendo falar sobre VoIP/SIP e o uso prático de Java nestes cenários.

Redes de Telecomunicações
Atualmente, nos conectamos um ao outro através de três redes principais:
  • Internet - rede baseada em pacotes e nos protocolos TCP/IP, que permite o uso de uma infinidade de serviços, como a Web, IM, e-mail, etc.
  • Rede Celular - rede de telecomunicações baseada em circuito (2G) ou em pacotes (3G) que basicamente possibilita o estabelecimento de chamadas de voz. Sua principal característica é a onipresença.
  • Rede Fixa - primeira a surgir, é uma rede de telecomunicações baseada em circuito. É o telefone fixo das nossas casas, cada vez mais em desuso.
Notem: são três redes diferentes, todas com o mesmo intuito de facilitar a comunicação entre pessoas e prover serviços para os seus usuários. Parece um pouco redundante, não? Vamos olhar o conceito de NGN.

Next-Generation Networks (NGN) é um termo amplo, utilizado para descrever um conjunto de evoluções arquiteturais nas redes de fixa/celular, cujo objetivo primordial é convergir todas as redes em apenas uma. Esta nova rede será baseada em pacotes (mais especificamente no protocolo IP) e será utilizada para transportar todas as informações e serviços (Wikipedia). Em outras palavras: é utilizar a internet para os serviços que as redes de telecom hoje nos provem, sem perder a mobilidade e a onipresença das redes celulares. Um outro ponto importante para nós é que nas NGNs define-se uma arquitetura unificada para a implementação e disponibilização de serviços, independente de camada de transporte, que poder ser acessada de qualquer dispositivo / lugar (opa, isto parece ter muito a ver com desenvolvedores...)

Algumas dúvidas comuns:
  • Eu uso a linha do meu telefone fixo para se conectar à Internet! Isto não significa que meu telefone já está na "Internet"?
A resposta é não. Você utiliza o meio físico do seu telefone fixo para acessar a Internet. A internet é uma infraestrutura de certa forma "paralela" à rede fixa. Semelhantemente, quando você acessa a Internet através de seu celular, você está utilizando o meio físico para se conectar. São redes diferentes, o que requisita manutenção dobrada e conversões entre os domínios (feitas pelos chamados "gateways").
  • O que eu (e o mundo) ganha unificando as redes?
Muitas coisas:
  • Uma rede única baseada em pacotes (que tende a fazer um melhor uso de banda que redes baseadas em circuitos).
  • Acesso unificado e integrado aos serviços. Alguns exemplos: acesso à caixa postal do telefone pela Web, confirmação de transação eletrônica via telefone, videoconferência entre dispositivos diversos, etc
  • Independência de dispositivo e de localidade. Assim, você liga para wilson at globalcode.com.br, não para um número de celular ou telefone fixo. Em qualquer lugar do planeta você recebe uma ligação como se fosse local.
  • Tarifação diferenciada. Acessar a Internet pelo celular me parece um pouco caro hoje, assim como ligações de longa distância.
E o que um desenvolvedor Java ganha com este movimento?
  • Nova gama de serviços (já pensou em implementar uma central de atendimento a la Call Centers em Java?)
  • Desenvolvimento de serviços unificados e de amplo alcance (TODOS poderão utilizá-lo)
  • Desenvolvimento de nós do core da rede (duvida? Veja o projeto Sailfin).
Como me disseram uma vez, os desenvolvedores de software começam a fazer parte da rede de telecom. Agora ela fala a nossa língua (IP? :)).

Um lembrete importante: NGN é um conceito arquitetural/comercial. Em termos práticos, existe uma especificação de uma rede baseada nestes conceitos chamada de IMS (IP Multimedia Subsystem). Esta especificação é mantida pelo 3GPP, que entre outras responsabilidade mantem tudo que é relacionada a GSM.

Obviamente esta evolução será longa e díficil. Existem dificuldades enormes em se trocar o core de uma rede telecom, além de óbvios interesses comerciais das operadoras de explorarem a infra-estrutura já existente.

Além destas mudanças de infra-estrutura, uma outra mudança necessária é de que nossas conversas terão que ser transportadas via Internet. Assim, os protocolos de VoIP (Voice over IP) começam a ganhar cada vez mais importância. Falo sobre eles em seguida ...

Até breve!

Wilson

Comentários

Wilson Parabéns pelo belo post.

Legal ver mais gente falando de Java sendo utilizado no core de redes de Telecom, eu e algums amigos de trabalho da Voice Technology mantemos um blog voltado para a área de TI e Telecom chamado ensinar (http://ensinar.wordpress.com) e estamos no meio de uma série de posts sobre este assunto, mas nós focamos em falar sobre o Mobicents pois ele é o servidor de aplicação mais completo para a àrea de Telecom, ele não suporta apenas SIP como o Sailfin, mas também suporta protocolos core de rede NGN como MGCP, ISUP, Camel, Diameter, etc.

Abraços,

Antonio Anderson Souza
Yara Senger disse…
Wilson, adorei seu post. Estamos esperando mais... se quiser ministrar um minicurso gratuito presencial, remoto, em SP ou Campinas será muito bem vindo!

Pessoal da Voice Tecnology, se quiserem participar da Open4Education também são muito bem vindos. O Edgar já falou um pouco (informalmente) sobre Mobicents, e com certeza será produtivo para a comunidade.

A auditório está aberto, a Globalcode é Open4Education. :)
Reinaldo disse…
Olá Wilson, gostei muito do seu comentário também. Você saiu do convencional e o assunto que voce abordou interessou-me muito. Sou desenvolvedor de soluções em C. Trabalho justamente nesse ramo, de roteamento, só que na área de transações eletrônicas. Confesso que até ler o seu POST, eu tinha um certo preconceito de JAVA. Acho que o seu POST está clareando as minhas idéias... por favor continue!
Caso você precise de celular Sony, acesse o fórum que fala sobre celulares Sony e celulares espiões. Os temidos celulares da atualidade que gravam todas as ligações.Tem link também para celulares da Nokia, Motorola, Samsung, LG. Dicas toques e muito mais.
Unknown disse…
Seria muito bom se tivesse um curso de jain-sip e sip-servlet pra São Paulo seria um sucesso , poderia até trabalhar com server reais vono , que é gratis por 30 dias e tem um numero pra receber por 30 dias de teste (Não propaganda é um recurso que se tivesse em curso teria a implementação na pratica)
Ótimo artigo, realmente existe um convergência entre Java e Telecom, mas nem sempre estamos atento ao tema.

Abraços,
Ranieri Marinho de Souza
http://blog.segr.com.br

Postagens mais visitadas deste blog

O que é Lógica de programação?

Este é o segundo de uma série de posts voltados aos leitores do blog que estão dando início à carreira de desenvolvimento de software. O assunto de hoje é a lógica de programação. Para ler antes: Entendendo como funciona a programação de computadores: linguagens de programação, lógica, banco de dados A lógica de programação é um pré-requisito para quem quer se tornar um desenvolvedor de software, independente da linguagem de programação que se pretende utilizar. Mas o que é de fato a Lógica de Programação e como saber se eu tenho esse pré-requisito? A lógica de programação nada mais é do que a organização coerente das instruções do programa para que seu objetivo seja alcançado. Para criar essa organização, instruções simples do programa, como mudar o valor de uma variável ou desenhar uma imagem na tela do computador, são interconectadas a estruturas lógicas que guiam o fluxo da execução do programa. Isso é muito próximo ao que usamos em nosso cotidiano para realizar atividad

TDC ONLINE: SUA PLATAFORMA DE PALESTRAS GRAVADAS DO TDC DISPONÍVEL

Além do conteúdo ao vivo transmitido online nas edições do TDC, agora você pode ter acesso à centenas de palestras gravadas, através da nossa nova plataforma de vídeos - o TDC Online, que reúne todas as Trilhas premium, Stadium e Salas dos Patrocinadores das edições anteriores de 2022, TDC Innovation e TDC Connections.  Para acessar, basta clicar na edição em que você participou ( TDC Innovation ou TDC Connections ); Fazer o mesmo login (com e-mail e senha) cadastrados na hora de adquirir ou resgatar o seu ingresso no TDC; E clicar na Trilha de sua opção, e de acordo com a modalidade do seu ingresso. Logo em seguida, você será direcionado para a seguinte página com a lista de todas as palestras por Trilha: Pronto! Agora você tem acesso à centenas de palestras gravadas da sua área de interesse, para assistir como e quando quiser! Caso tenha esquecido a senha, clique na opção "Esqueci a senha" , insira o e-mail que você realizou para o cadastro no evento, e aparecerá a op

Devo fazer um curso ou ler um livro?

Acredito que todos os instrutores ou professores, independentemente da área, escola ou centro de treinamento, já devam ter recebido essa pergunta alguma vez na vida: devo fazer um curso ou ler um livro? Para responder a essa pergunta, precisamos avaliar os prós e contras de cada opção. Trabalho com treinamento há algum tempo e, hoje, recebi essa pergunta de um aluno. Não adianta responder a ou b sem argumentar, demonstrando as opções conforme a situação do aluno. O conteúdo, a forma de transmissão e a capacidade de assimilação do indivíduo são chaves para haver benefício maior de aprendizado. Tanto em um bom curso quanto em um bom livro, o conteúdo é a premissa básica . Por conteúdo entendemos: se está organizado; se respeita pré-requisitos; se promove o aprendizado guiado e incremental; se aborda de forma satisfatória os principais pontos; se tem bom balanço entre teoria, exemplos e prática (favorecendo exemplos e prática); se tem como premissa a acessibilidade possível (e cabível) pa

TDC BUSINESS, chega a São Paulo com novas trilhas de Inteligência Artificial e Inovação

Maior conferência de profissionais de tecnologia do Brasil abordará temas em alta no momento como, por exemplo, Inteligência Artificial, Segurança, Ciência de Dados e Inovação O TDC BUSINESS, a 17° edição do The Developer's Conference na cidade de São Paulo, que acontece entre os dias 19 e 21 de Setembro, reunirá profissionais e especialistas da área para troca de experiência, compartilhamento de conteúdos e networking. Com o tema central: “Tecnologia para negócios transformadores”, o evento será totalmente híbrido, ocorrendo presencialmente no espaço Pro Magno, e com transmissão simultânea e atividades de network pela internet. A expectativa é reunir mais de 14.000 pessoas, somando a participação presencial e online.   Segundo Yara Mascarenhas, Fundadora e Host do Evento, “nosso objetivo com o TDC é inspirar a colaboração entre os profissionais e empresas para construir uma nova realidade para o mercado de TI.  Vamos juntar tecnologia e negócios com as trilhas técnicas, oferecen

10 reasons why we love JSF

1. One-slide technology: it's so simple that I can explain basic JSF with one slide. 2. Easy to extend: components, listeners, render kit, Events, Controller, etc. 3. Real-world adoption: JBoss, Exadel, Oracle, IBM, ... 4. Architecture model: you can choose between more than 100 different architecture. 5. Open-mind community: using JSF you are going to meet very interesting people. 6. We are using JSF the last 5 years and we found very good market for JSF in Brazil 7. Progress: look to JSf 1.1 to JSF 1.2, JSF 1.2 to JSF 2.0. People are working really hard! 8. Many professionals now available 9. It's a standard. It's JCP. Before complain, report and help! 10. Ed Burns, spec leader, is an old Globalcode community friend! EXTRA: My wife is specialist in JSF. She's my F1 for JSF :) Nice job JSF community! -Vinicius Senger

JavaMail: Enviando mensagem HTML com anexos

Introdução Depois do post "JavaMail: Enviando e-mail com Java" , que apresentava como enviar um e-mail com Java, resolvi complementar a assunto apresentando como enviar uma mensagem formatada, em HTML , e também como realizar o envio de anexos. Bibliotecas Além da biblioteca JavaMail, veja mais no post anterior , é necessário incluir o JavaBeans Activation Framework (JAF), apenas se a versão utilizada for anterior ao JSE 6.0 , que já tem o JAF incluso. O JAF está disponível em http://www.oracle.com/technetwork/java/javase/downloads/index-135046.html , e neste download encontramos, alguns exemplos na pasta demo , documentação, incluindo javadocs, na pasta docs e a biblioteca activation.jar , que deve ser acrescentada no classpath da aplicação para versões anteriores ao JSE 6.0. Exemplo Primeiramente devemos realizar a configuração da javax.mail.Session e da javax.mail.internet.MimeMessage , estes passos podem ser vistos no post anterior . Agora vamos montar um