Pular para o conteúdo principal

O novo try no Java 7, por uma linguagem mais simples

O Java 7, lançado em Julho, além de reviver mudanças no Java também trouxe novas características afim de tornar a linguagem um pouco mais simples e menos verbosa, ou seja, as instruções podem ser escritas com um volume menor de código.

Nós da Globalcode adoramos novidades, ainda mais relacionada ao Java, usamos e incentivamos nossos alunos e clientes a experimentarem o Java 7. Nesse post vou comentar sobre as características do novo bloco try do Java.

Para começar, primeiro, vamos analisar uma demonstração simples de um programa Java que lê o conteúdo de arquivo texto linha a linha:
import java.io.*;

public class DemoTryAntigo {

  public static void main(String[] args) {
    FileReader in = null;
    BufferedReader buff = null;
        
    try {
      in = new FileReader("/home/yaw/teste.txt"); //caminho do arquivo
      buff = new BufferedReader(in, 1024);
            
      StringBuilder builder = new StringBuilder();
      String s = null;
      while ((s = buff.readLine()) != null) {
        builder.append(s).append("\n");
      }      
      System.out.println("Conteudo do arquivo:\n\n"+builder);
    } catch(IOException iox) {
      System.out.println("Falha ao ler arquivo: "+iox.getMessage());
    } finally {
      if (buff != null) {
        try {
          buff.close();
        } catch(IOException bufx) {
          System.out.println("Falha ao fechar buffer: "+bufx.getMessage());
        }
      }
      if (in != null) {
        try {
          in.close();
        } catch(IOException inx) {
          System.out.println("Falha ao fechar arquivo: "+inx.getMessage());
        }
      }
    }
  }

}

Nenhuma complexidade nesse exemplo, o ponto negativo é o excesso de código (linhas 22 a 35) no bloco finally necessário para liberar os recursos de I/O utilizados na leitura do arquivo. O programa escrito dessa forma compila e funciona no Java 7, mas a partir do Java 7 podemos tirar proveito do try-with-resources: um recurso é um objeto que deve ser encerrado quando o bloco try for concluído. Veja como ficaria o mesmo programa utilizando essa funcionalidade do Java 7:
import java.io.*;

public class DemoNovoTry {

  public static void main(String[] args) {
    try (FileReader in = new FileReader("/home/yaw/teste.txt");
         BufferedReader buff = new BufferedReader(in, 1024)) {

      StringBuilder builder = new StringBuilder();
      String s = null;
      while ((s = buff.readLine()) != null) {
        builder.append(s).append("\n");
      }
      System.out.println("Conteudo do arquivo:\n\n"+builder);
    } catch(IOException iox) {
      System.out.println("Falha ao ler arquivo: "+iox.getMessage());
    }
  }

}

O código ficou bem mais limpo! Uma regra importante sobre o try-with-resources é que o objeto (recurso) definido no try deve implementar ou interface java.lang.AutoCloseable (nova) ou java.io.Closeable, qualquer outro conteúdo o compilador não irá aceitar. No exemplo demonstrado ambas FileReader e BufferedReader implementam AutoCloseable, essa foi uma das mudanças na API de I/O ocorridas no Java7.

Na verdade, nos bastidores, o Java faz o trabalho “sujo” de implementar o bloco de finalização para garantir que os recursos sejam encerrados, omitindo o código aos programadores. O Java transforma cada recurso declarado no try em uma variável final e, define um bloco try-finally aninhado a declaração desse recurso. Outra característica importante é que em casos com mais de um recurso definido no try (o nosso exemplo cai nessa situação) o Java encerra os recursos na ordem inversa em que são definidos, garantindo que todos os recursos serão devidamente encerrados. A seguir o código que o compilador do Java 7 utiliza para gerar o byte code:
import java.io.*;

public class DemoNovoTry {

  public static void main(String[] args) {
    try {
      final FileReader in = new FileReader("/home/yaw/teste.txt");
      /*synthetic*/ Throwable primaryException0$ = null;
      try {
        final BufferedReader buff = new BufferedReader(in, 1024);
        /*synthetic*/ Throwable primaryException1$ = null;
        try {
          StringBuilder builder = new StringBuilder();
          String s = null;
          while ((s = buff.readLine()) != null) {
            builder.append(s).append("\n");
          }
          System.out.println("Conteudo do arquivo:\n\n" + builder);
        } catch (/*synthetic*/ final Throwable t$) {
          primaryException1$ = t$;
          throw t$;
        } finally {
          if (buff != null)
            if (primaryException1$ != null) 
              try {
                buff.close();
              } catch (Throwable x2) {
                primaryException1$.addSuppressed(x2);
              }
            else
              buff.close();
        }
      } catch (/*synthetic*/ final Throwable t$) {
        primaryException0$ = t$;
        throw t$;
      } finally {
        if (in != null) 
          if (primaryException0$ != null)
            try {
              in.close();
            } catch (Throwable x2) {
              primaryException0$.addSuppressed(x2);
            }
          else
            in.close();
      }
    } catch (IOException iox) {
      System.out.println("Falha ao ler arquivo: " + iox.getMessage());
    }
  }

}

Analisando cuidadosamente o código acima, é possível identificar as mudanças realizadas na estrutura de exceções do Java 7: o método addSuppressed na classe Throwable, que permite que uma exceção secundária seja vinculada a outra exceção primária. Veja o trecho com o finally do BufferedReader (linhas 22 a 32), ao fechar o buffer o programa verifica se existe alguma exceção gerada durante a leitura do buffer, dessa forma se ocorrer alguma exceção durante o close do buffer essa será vinculada a exceção primária lançada do try.

Outro método novo em Throwable é o getSuppressed, que retorna um array com exceções vinculadas a exceção principal, um novo construtor da classe também foi criado no Java 7.

A API do JDBC, versão 4, foi ajustada no Java 7 para respeitar o AutoCloseable. A seguir um programa Java abre uma conexão com uma base de dados MySQL e executa uma instrução SQL.
(Importante: ao testar garanta que o driver esteja configurado; o caminho, usuário e senha do banco de dados estejam corretos; e a existência da tabela clientes)

import java.sql.*;

public class DemoTryJDBC {

  public static void main(String[] args) throws SQLException, Exception {
     Class.forName("com.mysql.jdbc.Driver");
     String query = "select nome, cpf from clientes";
     String urlDB = "jdbc:mysql://localhost:3306/testdb";

     try (Connection con = DriverManager.getConnection(urlDB,"user","user");
       Statement stmt = con.createStatement();
       ResultSet rs = stmt.executeQuery(query)) {

       while (rs.next()) {
         String nome = rs.getString("nome");
         String cpf = rs.getString("cpf");
         
         System.out.printf("Nome:%s\t Cpf:%s %n", nome, cpf);
       }
     }
  }
    
}

Outra novidade do Java 7, ainda no escopo do bloco try, é a possibilidade de definir o mesmo tratamento de erro para diversos tipos de exceções utilizando o multicatch. O próximo o utilizo a API de reflexão do Java para criar uma String, veja que o catch determina o mesmo tratamento para as exceções: ClassNotFoundException, InstantiationException ou IllegalAccessException.
public class DemoMulticatch {
    
  public static void main(String[] args) {
    Object o = null;
    try {
      Class clazz = Class.forName("java.lang.String");
      o = clazz.newInstance();
      System.out.println(o.getClass());
    } catch (ClassNotFoundException | InstantiationException | IllegalAccessException ex) {
      System.err.println("Erro na criação do objeto: "+ex.getMessage());
    }
  }

}

Sobre o multicatch, uma regra importante é que o compilador não aceita a declaração utilizando exceções polimórficas, com relacionamento via herança. Por exemplo, não é permitido utilizar o tipo Exception dentro dessa instrução catch. Também não é permitido definir checked exceptions que não são lançadas dentro do try, no exemplo acima uma IOException não seria aceita dentro do catch. Para uncheked exceptions (Runtime) o compilador é flexível, seria permitido declarar uma NullPointerException naquele catch.

Durante o TDC2011 edição São Paulo e Florianópolis, falamos bastante sobre o Java 7! Na próxima edição, em Goiânia, não poderia ser diferente, no sábado (29/10) vai rolar a palestra Tirando proveito dos novos recursos do Java 7 na trilha Java.

O Java 7 disponibiliza outros recursos que deixam a linguagem mais sucinta, para saber mais sobre essas outras novidades ou características relacionadas acesse os links abaixo:

[]s
Eder Magalhães
www.yaw.com.br
twitter.com/youandwe
twitter.com/edermag


Comentários

Yara Senger disse…
Parabéns pelo artigo Eder! Que energia para fazer coisas, postar noticias, palestras! Show de bola!

Postagens mais visitadas deste blog

10 reasons why we love JSF

1. One-slide technology: it's so simple that I can explain basic JSF with one slide. 2. Easy to extend: components, listeners, render kit, Events, Controller, etc. 3. Real-world adoption: JBoss, Exadel, Oracle, IBM, ... 4. Architecture model: you can choose between more than 100 different architecture. 5. Open-mind community: using JSF you are going to meet very interesting people. 6. We are using JSF the last 5 years and we found very good market for JSF in Brazil 7. Progress: look to JSf 1.1 to JSF 1.2, JSF 1.2 to JSF 2.0. People are working really hard! 8. Many professionals now available 9. It's a standard. It's JCP. Before complain, report and help! 10. Ed Burns, spec leader, is an old Globalcode community friend! EXTRA: My wife is specialist in JSF. She's my F1 for JSF :) Nice job JSF community! -Vinicius Senger

O que é Lógica de programação?

Este é o segundo de uma série de posts voltados aos leitores do blog que estão dando início à carreira de desenvolvimento de software. O assunto de hoje é a lógica de programação. Para ler antes: Entendendo como funciona a programação de computadores: linguagens de programação, lógica, banco de dados A lógica de programação é um pré-requisito para quem quer se tornar um desenvolvedor de software, independente da linguagem de programação que se pretende utilizar. Mas o que é de fato a Lógica de Programação e como saber se eu tenho esse pré-requisito? A lógica de programação nada mais é do que a organização coerente das instruções do programa para que seu objetivo seja alcançado. Para criar essa organização, instruções simples do programa, como mudar o valor de uma variável ou desenhar uma imagem na tela do computador, são interconectadas a estruturas lógicas que guiam o fluxo da execução do programa. Isso é muito próximo ao que usamos em nosso cotidiano para realizar atividad...

NIO.2 do Java 7: uma nova API do Java para file system

Uma das novidades mais importantes e aguardadas do Java 7 foi a NIO.2, a nova API para a manipulação I/O com Java. A NIO.2, também conhecida como JSR 203 , disponibiliza um conjunto de novos componentes, projetados para melhorar caracterísiticas de I/O com Java como por exemplo: uma nova API para o acesso e manipulação de conteúdo do file system (sistema de arquivos); outra API para operações assíncronas com I/O; e a atualização da API para comunicação via sockets ( channel sockets ).   O Java, antes da versão 7, tratava a manipulação do sistema de arquivos de forma primitiva. O programador tinha de trabalhar com a classe File para representar arquivos e/ou diretórios, com um número escasso de funcionalidades. Uma operação simples como copiar um arquivo demandava um código relativamente grande. Outras funcionalidades triviais, como por exemplo o uso de links simbólicos, não eram suportadas. Esses são alguns dos motivos para justificar o uso de bibliotecas terceiras...

TDC ONLINE: SUA PLATAFORMA DE PALESTRAS GRAVADAS DO TDC DISPONÍVEL

Além do conteúdo ao vivo transmitido online nas edições do TDC, agora você pode ter acesso à centenas de palestras gravadas, através da nossa nova plataforma de vídeos - o TDC Online, que reúne todas as Trilhas premium, Stadium e Salas dos Patrocinadores das edições anteriores de 2022, TDC Innovation e TDC Connections.  Para acessar, basta clicar na edição em que você participou ( TDC Innovation ou TDC Connections ); Fazer o mesmo login (com e-mail e senha) cadastrados na hora de adquirir ou resgatar o seu ingresso no TDC; E clicar na Trilha de sua opção, e de acordo com a modalidade do seu ingresso. Logo em seguida, você será direcionado para a seguinte página com a lista de todas as palestras por Trilha: Pronto! Agora você tem acesso à centenas de palestras gravadas da sua área de interesse, para assistir como e quando quiser! Caso tenha esquecido a senha, clique na opção "Esqueci a senha" , insira o e-mail que você realizou para o cadastro no evento, e aparecerá a op...

Devo fazer um curso ou ler um livro?

Acredito que todos os instrutores ou professores, independentemente da área, escola ou centro de treinamento, já devam ter recebido essa pergunta alguma vez na vida: devo fazer um curso ou ler um livro? Para responder a essa pergunta, precisamos avaliar os prós e contras de cada opção. Trabalho com treinamento há algum tempo e, hoje, recebi essa pergunta de um aluno. Não adianta responder a ou b sem argumentar, demonstrando as opções conforme a situação do aluno. O conteúdo, a forma de transmissão e a capacidade de assimilação do indivíduo são chaves para haver benefício maior de aprendizado. Tanto em um bom curso quanto em um bom livro, o conteúdo é a premissa básica . Por conteúdo entendemos: se está organizado; se respeita pré-requisitos; se promove o aprendizado guiado e incremental; se aborda de forma satisfatória os principais pontos; se tem bom balanço entre teoria, exemplos e prática (favorecendo exemplos e prática); se tem como premissa a acessibilidade possível (e cabível) pa...

Java no mundo das Telecomunicações

Este é meu primeiro post aqui no blog e gostaria de dizer que estou muito feliz em também poder contribuir com esta grande (e crescente) família Globalcode. Vou começar escrevendo aqui sobre um tópico pouco explorado no universo Java: o seu uso no mundo das telecomunicações. Vários de vocês podem ter trabalhado em projetos para empresas de telecom utilizando a tecnologia Java. Eu mesmo já participei de alguns, implantando sistemas de tarifação, faturamento, CRM e cobrança. Mas o objetivo deste post é um pouco diferente: estou falando do uso de Java na própria rede de telecom. Como vocês podem imaginar, esta rede que permite que ligações telefônicas sejam feitas de seu celular ou aparelho fixo é um tanto quanto complexa, lidando com aspectos como roteamento, bilhetagem, roaming , etc. E o Java está presente neste cenário também. Para provar que não estou mentindo, abram o site do JCP e cliquem no link "JSRs by Technology". Observem que uma das categorias lista é a JAIN ( Jav...