Pular para o conteúdo principal

Lint API Check e Biblioteca de Compatiblidade: Armas contra a Fragmentação no Android



Um dos problemas mais falados sobre a plataforma Android é sua fragmentação, que envolve as diferenças entre hardwares, resolução e densidades de displays e, versões do sistema operacional. Bem, tenho uma boa e uma má notícia para você que está lendo este texto e é desenvolvedor Android:

Notícia ruim: realmente a fragmentação existe e não temos como fugir dela;
Noticia boa: a plataforma Android é inteligente o suficiente para fornecer diversos mecanismos para atacar e minimizar este problema. Temos a especialização dos recursos, com isso, podemos fornecer menus, conteúdos textuais e, principalmente, Views específicas para cada aparelho, ou família de aparelhos. Quanto ao problema de diferenças de hardware, a plataforma também fornece APIs agnósticas, que só impedem uma distribuição global de seu aplicativo se o código não for bom.

Porém, neste pequeno artigo vamos focar na resolução do problema de fragmentação em relação à diferença de versões do sistema operacional. No momento da escrita deste texto (Junho de 2013), o market share do Android 2.3.x supera as outras versões, tendo cerca de 44,1%. Porém, as versões acima da 4.0 também estão bem no mercado, com 28,6% e 16,5% para o Android 4.0.x e 4.1.x/4.2.x, respectivamente. O problema disso é que temos APIs que só funcionam em algumas versões. Um dos casos mais famosos são os Fragments, introduzidos na versão 3.0. Como resolver este problema todo?

Existem duas soluções principais e com um alto poder de auxílio para nós, desenvolvedores Android:

Biblioteca de Compatibilidade: esta biblioteca permitiu que recursos criados para versões mais recentes do Android possam ter retro compatibilidade. Um exemplo bem conhecido são os Fragments.

Nas versões mais novas do ADT, ao criar um projeto no Eclipse já podemos perceber que dentro da pasta libs tem um jar com o nome iniciando em android-support-<versão>. Com ela podemos utilizar Fragment, GridLayout e outras classes criadas em versões mais recentes.

E o melhor dessa história é o fato de, geralmente, utilizarmos as classes exatamente da mesma forma como utilizaríamos em seu pacote normal. Veja o trecho de código abaixo:

FragmentTransaction transaction = getSupportFragmentManager().beginTransaction();
transaction.setCustomAnimations(R.anim.enter, R.anim.exit);
            
drugFragDetail = new DrugFragmentDetail();
drugFragDetail.setArguments(b);
transaction.add(R.id.detailFragment, drugFragDetail);

O único indício de uso da biblioteca de compatibilidade (sem olhar os imports) é o getSupportFragmentManager. Na API do Android 3.0 o método seria o getFragmentManager. Por isso utilizei a expressão “geralmente” há poucos parágrafos acima. Os imports das classes também alteram de android.app.* para android.support.v4.app.*. Mas mesmo assim perceba que é um trabalho pequeno comparado aos benefícios que temos como retorno.

Claro que neste pequeno artigo não podemos mostrar todas as possibilidades desta biblioteca de compatibilidade. Mas não se esqueça dela, em breve estará utilizando-a massivamente em seus projetos.

Lint API Check: a outra fórmula milagrosa que podemos utilizar se chama Lint API Check. Surgiu a partir de mudanças feitas no ADT 17 e, permitiu que um código Android possa ser feito com condicionais referentes a versão do sistema operacional. Mas claro que não vamos fazer isso via código if-else por exemplo, mas sim, utilizando Java Annotations.

Para exemplificar este conceito através de código vamos utilizar a PreferenceActivity. Esta era uma classe filha de Activity especializada para o uso de persistência de dados com SharedPreferences. Acontece que depois da versão 3.0 do Android, o método que associa os campos a serem persistidos mudou, ficando depreciado para versões pré 3.0. Podemos deixar o código depreciado mesmo? Sim, mas não é o ideal. O Google tem boas razões para indicar isso e sempre que possível, devemos remover este warning do código.

Veja a listagem abaixo:

import android.annotation.TargetApi;
import

public class PreferenciaActivity extends PreferenceActivity {

    public static int prefs_xml= R.layout.preferencias;

    @Override
    protected void onCreate(final Bundle savedInstanceState)
    {
        super.onCreate(savedInstanceState);
        try {
            getClass().getMethod("getFragmentManager");
            addResources11();
        } catch (NoSuchMethodException e) {
            addResourcesPre11 ();
        }
    }

    @SuppressWarnings("deprecation")
    protected void addResourcePre11()
    {
        addPreferencesFromResource(prefs_xml);
    }

    @TargetApi(11)
    protected void addResource11 ()
    {       
getFragmentManager().beginTransaction().replace(android.R.id.content, new PF()).commit();
    }

    @TargetApi(11)
    public static class PF extends PreferenceFragment
    {      
        @Override
        public void onCreate(final Bundle savedInstanceState)
        {
          super.onCreate(savedInstanceState);
          addPreferencesFromResource(PreferenciaActivity.prefs_xml);
        }
    }

}

No onCreate da PreferenceActivity estamos verificando se existe o método getFragmentManager. Caso afirmativo o bloco try irá trabalhar sem problemas e, isso nos diz que o aplicativo estará sendo executado em uma versão 3.0, ou superior, do Android. Caso negativo, versão 2.3 ou inferior.

Se estivermos em 3.0 ou superior, chamamos o método addResources11, específico para estes API Level ´s. Mas sem a annotation @TargetApi(11) e o import android.annotation.Target, o código irá apresentar problemas ainda na compilação.

No método addResources11 estamos fazendo uma instância da classe PF, que também está marcada com a anotação. A regra aqui é: a annotation sempre deve existir em método e classe que desejarmos especificar em qual API Level ela trabalha, logicamente com exclusividade.

Com isso o código irá rodar perfeitamente em qualquer versão do Android, utilizando as últimas técnicas e as classes indicas pela competente equipe que cria a plataforma.

Apesar de ser um artigo curto, espero ter indicado o caminho das pedras para dizimarmos o fantasma da fragmentação de api level dentro do Android. Use e abuse da biblioteca de compatibilidade e da Lint API Check.

Att.
Ricardo Ogliari

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O que é Lógica de programação?

Este é o segundo de uma série de posts voltados aos leitores do blog que estão dando início à carreira de desenvolvimento de software. O assunto de hoje é a lógica de programação. Para ler antes: Entendendo como funciona a programação de computadores: linguagens de programação, lógica, banco de dados A lógica de programação é um pré-requisito para quem quer se tornar um desenvolvedor de software, independente da linguagem de programação que se pretende utilizar. Mas o que é de fato a Lógica de Programação e como saber se eu tenho esse pré-requisito? A lógica de programação nada mais é do que a organização coerente das instruções do programa para que seu objetivo seja alcançado. Para criar essa organização, instruções simples do programa, como mudar o valor de uma variável ou desenhar uma imagem na tela do computador, são interconectadas a estruturas lógicas que guiam o fluxo da execução do programa. Isso é muito próximo ao que usamos em nosso cotidiano para realizar atividad...

Entendendo como funciona a programação de computadores: linguagens de programação, lógica, banco de dados

Nesse post, diferente dos últimos que foram mais enfáticos nas experiências com tecnologias, vou focar um pouco mais nos profissionais que estão começando, ou pretendem ingressar na área de desenvolvimento de software, falando sobre conceitos fundamentais relacionados a programação em geral . Mercado de trabalho para programação Conforme já sabemos, o mercado de desenvolvimento de software, especialmente no Brasil, continua em franca expansão, sendo que cada vez mais as empresas buscam desenvolver seus próprios sistemas usando as mais diferentes e novas tecnologias. Algumas matérias interessantes: As seis profissões mais valorizadas em 2010 no IDG Now! Muitas vagas e sensação de reaquecimento da economia Por isso, a área de desenvolvimento de software tem despertado interesse em muitos profissionais de outras áreas que desejam mudar de profissão, já que as oportunidades de trabalho tendem a ser maiores. Esse é um perfil presente em muitos dos clientes da Globalcode que acabou m...

Melhorando Performance de JPA com Spring Web Flow

No TDC2009 realizado pela Globalcode em São Paulo foi apresentado um Lightning Talk sobre um problema específico de performance em aplicações Web com JPA e uma possível solução usando o Spring Web Flow . Num período de 15 minutos, os slides a seguir foram apresentados e seguidos de alguns vídeos de demonstração de uma aplicação Web em execução. Melhorando performance do JPA com Spring Web Flow View more presentations from Dr. Spock . Nesta apresentação foi dito que temos encontrado problemas de performance em aplicações Web que utilizam as tecnologias JSF + JPA + Ajax quando precisamos gerenciar um contexto de persistência (EntityManager). Estes problemas se manifestam quando aplicamos uma resposta errada para a pergunta: Como gerenciar o contexto de persistência numa aplicação Web? Se as aplicações não usam Ajax e limitam-se ao modelo orientado a requisições, a solução mais comum é o uso do design pattern chamado "Open Session In View Filter". Através deste design...

Saiba como programar para Arduino sem ter nenhum hardware disponível

O Arduino já é uma tecnologia muito difundida entre os amantes de tecnologia. É difícil encontrar um profissional da computação que não brincou um pouco com esta ferramenta de prototipagem ou, que gostaria de fazer isso. Porém, em alguns casos, o programador quer conhecer o arduino mas não dispõe de nenhum hardware, nem mesmo da placa. Como isso poderia ser resolvido? A primeira resposta seria aquela mais simples e direta: ir as compras. Isso pode ser feito em uma loja física ou pela internet. No meu caso, por exemplo, tive a felicidade de encontrar em um site (não me lembro qual) um kit arduino, com um conjunto de sensores e um DVD com 41 vídeo aulas. Mas digamos que o profissional não esteja passando por um bom momento financeiro, ou ainda, simplesmente não queira comprar o Arduino sem antes conhecê-lo um pouco melhor. Para a última situação também já existe uma resposta, e diga-se de passagem, uma excelente resposta. Trata-se do site 123D Circuits.io . Depois de criar seu u...

Fazer networking em eventos pode transformar a sua carreira! Saiba como

O networking em eventos é vital ao desenvolvimento da sua carreira para construir relacionamentos de longo prazo, bem como uma boa reputação no mercado . Construir uma forte rede de contatos pode te ajudar a se tornar um nome conhecido no mercado, que influencia e causa impacto na sua área de interesse. Além disso, o networking colabora para: aprendizado contínuo; relacionamentos profissionais duradouros; troca de conhecimento com pessoas renomadas no mercado. O bom networking em eventos tem base de confiança e apoio — e pode significar a diferença entre uma carreira comum e fenomenal. Uma maneira de potencializar o networking, é pelo aprendizado continuado , que permite se especializar na área de atuação e expandir o leque de oportunidades. Neste artigo, reunimos algumas dicas para você saber como tirar o melhor proveito de eventos e fortalecer sua carreira. Aproveite a leitura! O que é networking? Networking é sobre construir relacionamentos profissionais de longo prazo, que sejam...

Dica rápida: Apagando registros duplicados no MySQL

Ola pessoal, Sei que vocês estão acostumados a ver posts meus sobre tecnologia móvel ou algo relacionado, mas hoje vou falar sobre um pequeno "truque" que usei esse final de semana com o MySQL. Eu estava desenvolvendo o lado servidor de uma nova aplicação mobile (ahh, então "tem a ver" com mobile hehe), e quando fui fazer alguns testes percebi que tinha quase 7 mil registros duplicados (!!!) na minha base de dados! Bom, o meu primeiro reflexo como programador foi pensar em fazer um "programinha" Java para buscar e deletar todos esses registros duplicados. Mas ai, resolvi tirar as teias de aranha dos neurônios e usar os vários anos de experiência que passei com SQL e criar uma query que fizesse esse trabalho todo de uma vez!! E a query ficou assim: delete from TABLE_NAME USING  TABLE_NAME, TABLE_NAME  AS  auxtable WHERE   ( NOT  TABLE_NAME.id  =  auxtable.id ) AND   ( TABLE_NAME.name  =  auxtable.name ) Explicação di...